Produção Animal
Alta volatilidade nas margens das atividades pecuárias continuará presente em 2022
A conjunção de fatores macroeconômicos e climáticos aponta para um ano de cautela em grande parte das cadeias pecuárias. Apesar das perspectivas positivas para o aumento da produção de soja e milho na safra 2021/2022, a previsão é de manutenção da volatilidade nos preços dos insumos, mantendo o custo com ração em patamares ainda elevados ao longo de 2022.
Com a previsão do dólar em alta em 2022, a pressão sobre os custos de produção continuará elevada. Por um lado, grande parte dos insumos utilizados na pecuária é importada, e o câmbio em alta favorece as exportações de milho e soja utilizados na alimentação animal. Por outro lado, as cadeias voltadas para o mercado externo, em especial as de carnes, ganham competitividade, ainda que o custo logístico, principalmente o de contêineres, seja um fator preocupante para o próximo ano.
Quanto à demanda internacional, a China segue sendo um dos principais destinos para as carnes brasileiras. Apesar da longa suspensão de importação da carne bovina em função do caso atípico de encefalopatia espongiforme bovina, a previsão é que a China retorne as compras, ampliando seu consumo em função da menor oferta interna.
A exportação da carne suína ao país asiático deve crescer na ordem de 5% em 2022, movimento causado principalmente por resquícios da Peste Suína Africana (PSA), que ainda impacta a oferta interna dessa proteína. Apesar do aumento nas exportações, a desvalorização do suíno no mercado doméstico chinês seguirá refletindo em queda no preço da carne suína in natura exportada. A doença também terá influência no aumento das exportações brasileiras para a Europa, que ainda sente o impacto de surtos contínuos de PSA.
Quanto às exportações brasileiras de frango, estas seguirão em alta. Além da PSA na Ásia e na Europa, essas regiões também seguirão sofrendo impactos da Gripe Aviária de Alta Patogenicidade (Highly Pathogenic Avian Influenza – HPAI) nos primeiros meses de 2022, com queda na produção e nas exportações. O Brasil, que nunca registrou casos de HPAI, pode continuar se beneficiando do mercado externo, pois muitos países concorrentes nossos continuarão ou poderão ser banidos de alguns importantes mercados na Ásia, no Oriente Médio e na África.
No caso do setor lácteo, são projetadas oportunidades de negócios pontuais em 2022, com o real desvalorizado e a China passando a fazer parte dos destinos do produto nacional. Com novas regulamentações ambientais pressionando o produtor neozelandês a reduções no rebanho, os produtores vêm focando no aumento de produtividade animal para a manutenção dos volumes, o que deve culminar em taxas menores de crescimento da produção daquele país. Já a economia da Argentina atravessa um período delicado, o que também deve limitar a oferta, enquanto a produção leiteira segue estagnada na União Europeia. Com a demanda mundial por lácteos em alta, há espaço para crescimento da participação do Brasil no comércio mundial, ainda que pouco expressiva no volume total.
As exportações brasileiras de mel e de própolis continuarão em alta, uma vez que o câmbio continuará favorável para a compra de produtos orgânicos e diferenciados. Outros fatores que estimularão o bom desempenho nacional dizem respeito à não recuperação da produção de mel na China e à diminuição da produção na Argentina devido à influência negativa do fenômeno climático La Niña na produção das abelhas em 2021.
Sobre a demanda interna, a previsão é de estabilidade da renda per capita e de leve crescimento do PIB. A perspectiva é de que a taxa de inflação fique acima da meta estipulada para 2022, indicando um cenário desafiador para as cadeias de produção animal. O impacto será sentido especialmente naquelas cadeias que mais dependem do consumo interno, como os ovos, o leite e o pescado.
Em função do achatamento das margens, a expectativa é de aumento de 2,2% na produção brasileira de ovos em 2022. No caso do leite, há possibilidade de incrementos na ordem de 1% no volume. Na tilapicultura, com as exportações crescendo em ritmo acelerado, os produtores acreditam no investimento em tecnologias para melhorar a eficiência do sistema produtivo em 2022; assim, espera-se que a produção avance 5% para o próximo ano.
Em relação ao consumo interno, a perspectiva é de otimismo para os segmentos de frango e de suínos, frente à manutenção da alta do valor da carne bovina no primeiro semestre de 2022. A projeção é de um aumento de 1% no consumo de carne de frango e de 5% de carne suína, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal.
Na pecuária de corte, a tendência é de maior ajuste entre a oferta e a demanda, devido à retenção de fêmeas que vem sendo realizada ao longo dos últimos anos. Mesmo que haja maior oferta de bovinos para o abate, esperam-se incrementos mais comedidos na produção de carne bovina, de 2%, em comparação anual, segundo o USDA. Quanto à demanda, a situação econômica do país não contribuirá para a recuperação do consumo per capita, que deverá crescer 0,75% em 2022, em comparação anual, segundo o Rabobank.
Enfim, mais uma vez o mercado internacional será um diferencial para as proteínas animais brasileiras. Os maiores desafios serão diversificar os compradores, agregar mais valor aos nossos produtos e fomentar a entrada de cadeias não tradicionais no mercado internacional.



