Produção Agrícola
Logística global, intensidade de La Niña e disponibilidade de insumos determinarão desempenho econômico da safra 2021/2022
De acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), há a probabilidade de 90% de ocorrência de La Niña. O fenômeno traz preocupações para a produção agrícola nacional. O evento vem acompanhado de períodos mais secos na Região Sul do país e chuvas acima da média nas Regiões Norte e Nordeste nos últimos meses de 2021, bem como a possibilidade de ocorrência de veranicos em parte da Região Sudeste em janeiro e fevereiro de 2022.
Para a primeira safra de 2022, as condições climáticas associadas aos bons preços praticados no mercado devem culminar na ampliação da produção de soja (3,4%), milho (15,7%) e feijão (3,6%).
No caso da segunda safra, os temores giram em torno da disponibilidade de insumos para o manejo adequado dos cultivos. As limitações internacionais para a produção e o transporte de fertilizantes e defensivos podem vir a refletir no desempenho dos cultivos.
No entanto, caso as soluções de curto prazo sejam viabilizadas, estima-se, para a produção de milho na segunda safra, uma recuperação acima de 40% em relação à safra 2020/2021. O aumento deve ser impulsionado pelos bons preços e pela boa janela de plantio praticada na primeira safra. Estima-se um aumento da área de 5,6% para o milho na segunda safra.
A confirmação do desempenho deve culminar em um estoque de final de ciclo acima de 12,5 milhões de toneladas, o que potencialmente será o maior dos últimos três anos.
No caso do café, estima-se um aumento de 10% da produção. O aumento deve ser de 11% para o café arábica e de 8% para o café conilon. Apesar de ser uma safra de bienalidade positiva, o impacto das geadas deve frear o aumento da produção do café arábica, mesmo diante das boas perspectivas climáticas, o que configurará uma produção total de café 19% inferior à praticada na safra de 2020, que foi o último ciclo de alta e o recorde de produção.
No caso da laranja, a safra que já teria estimativa de queda na produção, haja vista a bienalidade negativa, tem seu potencial produtivo ainda mais comprometido em decorrência das geadas. As temperaturas e a continuidade nas chuvas irão ser decisivas para a produção da safra. A quebra na produção da fruta também foi registrada nos EUA. Segundo estimativa do USDA, a safra 2021/2022 na Califórnia terá queda de 11% frente à safra anterior. A quebra na produção mundial da fruta limita os estoques, que já estavam em baixa.
Para a cana-de-açúcar, as geadas que atingiram lavouras no Centro-Sul do país prejudicaram o desenvolvimento dos canaviais, principalmente os jovens, e comprometeram o planejamento da colheita, devendo trazer efeitos ainda em 2022, como maior quantidade de falhas de brotação e menor produtividade.
Economia
Em relação às exportações de soja, a demanda pelo grão brasileiro deverá se manter forte em 2022. A perspectiva de crescimento no consumo na China, maior comprador brasileiro, somado ao cenário do real ainda desvalorizado, pode impulsionar ainda mais as vendas.
Para o algodão, mesmo diante de um mercado mundial aquecido, com sinais de aumento no consumo pós-pandemia e de uma recuperação na produção do Brasil, a tendência é de uma leve retração nas exportações brasileiras no ano de 2022, frente à menor disponibilidade de oferta da safra 2020/2021.
Depois de um ano com problemas na produção de safra e limitações nas compras, para o próximo ano, as estimativas de exportações de milho são maiores. A melhora na oferta, os preços em alta e o câmbio são fatores que, assim como em outras commodities, devem alavancar novamente os embarques brasileiros.
Para o arroz e o feijão, o panorama é o mesmo. A maior disponibilidade de oferta no mercado deve favorecer o aumento dos volumes exportáveis.
Para o café, mesmo com os preços elevados e o dólar valorizado, as exportações seguem com fundamentos técnicos para ampliação. No entanto, vale ressaltar a menor disponibilidade interna frente à quebra da safra de 2021, impactos já configurados pelas geadas na safra de 2022 no Brasil e pelos problemas logísticos enfrentados pelo setor, que podem perdurar e segurar as exportações do grão ao longo do primeiro semestre do ano de 2022.
As exportações de açúcar brasileiro também possuem fundamento de demanda para seguir em patamar elevado, acima da média das últimas cinco safras, com recuperação na ordem de 6,8% sustentada pela valorização do produto no mercado internacional e pela taxa de câmbio favorável, apesar da eventual recuperação dos mercados indiano e tailandês. Assim como os demais produtos, a disponibilidade logística e o preço do frete terão forte influência no desempenho.
No caso das frutas frescas, a expectativa é de que o mercado internacional permaneça aquecido e que as exportações brasileiras superem US$ 1 bilhão em receita cambial. O acesso a novos mercados e a diversificação dos produtos na pauta de exportação permanecem entre os objetivos do setor.
Mesmo com a ampliação estimada de 4,9% na safra americana de soja em 2021/2022, totalizando 120,4 milhões de toneladas e de safra recorde no Brasil, há possibilidade de redução da área plantada na Argentina. O avanço da vacinação de covid-19 no mundo e as boas expectativas de exportação e esmagamento no Brasil devem frear as quedas abruptas de preço.
Para o milho, os fundamentos técnicos sinalizam que as maiores altas já ocorreram. Estimam-se estoques mundiais acima de 304 milhões de toneladas (+4,3%). A boa expectativa está atrelada ao bom desempenho da produção no Brasil (+34,8%), nos Estados Unidos (+6,7%) e na Ucrânia (+25%). No entanto, bons patamares de preço e quedas não abruptas são esperados em função da demanda aquecida do cereal para a produção de etanol, principalmente nos Estados Unidos. No mercado interno, a demanda nacional de milho deverá crescer 5,1% e ultrapassar 76 milhões de toneladas em 2021.
No caso do algodão, mesmo com a expectativa de aumento da produção americana (24,5%) e do Brasil (12,6%), os estoques globais seguem com estimativa de queda. Estimam-se estoques finais de 86,9 milhões de fardos, ante os 90,3 milhões de fardos em 2020/2021. Com isso, os preços internacionais devem seguir a recuperação da demanda pós-pandemia.
Para o arroz e feijão, há expectativa de manutenção da produção acima do consumo nacional, a qual está estimada em 11,5 mil toneladas e 3,1 milhões de toneladas, respectivamente. Com isso, os preços devem seguir os comportamentos típicos de sazonalidade, sendo a intensidade dependente da recuperação do poder de compra da população.
No caso do açúcar, a restrição de oferta do Brasil e a manutenção da demanda aquecida em importantes players, como Índia, Tailândia e China, deverão sustentar os preços em 2022.
Quanto ao café, o dólar fortalecido, os problemas climáticos nas regiões produtoras do Brasil e as estimativas de manutenção, ou mesmo a elevação do consumo, apresentam-se como fortes fundamentos técnicos para a sustentação dos preços tanto do café arábica, quanto do conilon, em 2022.
Em relação às frutas e hortaliças destinadas ao mercado interno, a recuperação econômica e do poder de compra, atrelados ao aumento na demanda no mercado nacional, exercerão grande influência sobre o consumo. No entanto, os altos custos e a remuneração comprometida dos produtores poderão ocasionar em redução nas áreas cultivadas.
Os produtores de grandes culturas que realizaram a compra antecipada de insumos e receberam os produtos poderão ter mais competitividade diante da escalada dos preços e do aumento constante dos custos. Entretanto, se continuados os aumentos já verificados, poderão exercer papel proibitivo na expansão de área e na produção para a segunda safra 2021/2022, com um cenário ainda mais preocupante para 2022/2023.
No caso da soja com plantio em primeira safra, por exemplo, entre agosto e outubro, já se verificou um aumento nas previsões de custos de 54,8% (R$/ha 3.495 para R$/ha 5.410), impulsionados pelo aumento das despesas com fertilizantes (120,8%), herbicidas (103,9%), inseticidas (55%) e fungicidas (36,5%). Já para o milho, a estimativa de aumento no mesmo período foi de 49,7%, resultado dos aumentos de custo com fertilizantes (128%), herbicidas (62,4%) e inseticidas (51,9%).
Se confirmada a tendência verificada no início do ano-safra, a segunda safra do ciclo 2021/2022 vivenciará custos nunca vistos, que poderão ser proibitivos para a expansão de área e para a produção no segundo ciclo. Os impactos devem ser sentidos também em produtos básicos da cesta básica, como feijão e arroz. Quanto ao feijão, entre julho e outubro, verifica-se aumento do custo em 42%, impulsionado também pelos custos com fertilizantes, que aumentaram 115% para essa cultura. Para o arroz, o aumento do custo foi de 30,2%, entre os meses de julho e outubro, em função também do preço de insumos como fertilizantes (164%) e herbicidas (70%).
Diante desse cenário, dificilmente os aumentos de preço dos produtos agrícolas superarão, na mesma proporção, os aumentos de custo esperados para a safra 2021/2022. O potencial achatamento das margens sinaliza para uma safra de alto risco, no que se refere à gestão econômica das propriedades.