Produção Animal

Custos de produção elevados se destacam na produção de proteína animal

Após a dificuldade de escoamento dos produtos de origem animal em 2020 devido às medidas restritivas como o fechamento do setor de food service, 2021 era esperado como um ano de recuperação da pecuária nacional. No entanto, a manutenção da crise econômica no país e o súbito aumento dos custos de produção fizeram com que o produtor enfrentasse um ano de grandes desafios.

A forte oscilação nos preços do milho e do farelo de soja provocou constantes crises no setor pecuário. A demanda externa aquecida, a estiagem prolongada que reduziu a produtividade tanto na safra, quanto na safrinha e as geadas que acometeram importantes regiões produtoras fizeram com que os valores dessas commodities atingissem cotações recorde.

Na pecuária de corte, o custo com alimentação fez com que os produtores vissem seu Custo Operacional Efetivo (COE) aumentar 20,1%, de janeiro a outubro. Somado a isso, a baixa oferta de animais fez o produtor arcar com um preço de bezerro entre janeiro e outubro de 2021, em média, 50,11% maior do que o preço no mesmo período do ano passado. Na avicultura de postura e suinocultura de ciclo completo, a alimentação provocou respectivos aumentos de 25,42% e 36,13% no COE das atividades.

Nessas atividades, o que se observou foi uma deterioração da relação de troca entre os produtos e os principais insumos que compõem a ração, em especial o milho.

Na avicultura de postura, a quantidade de caixas de 30 dúzias de ovos necessárias para se comprar uma saca de 60 kg de milho saiu de 0,63 unidades em janeiro de 2020 para 0,82 unidades em outubro de 2021, uma diferença de 30%.

Na pecuária de leite, o cenário é semelhante, no qual o produtor de leite saiu de uma relação de troca de 35,63 litros de leite necessários para se comprar uma saca de milho de 60 kg, para 48,19 litros/saca, aumento de 35% nesse desembolso.

Na suinocultura independente, os dados são ainda piores. Houve uma piora na relação de 68%, a relação saiu de 10,51 kg de suínos necessários para a compra de uma saca de 60 kg de milho para 17,68kg.

Na pecuária de corte, em relação à reposição, houve incremento de 15% na relação de troca entre arrobas de boi gordo necessárias para aquisição de um bezerro, considerando os preços praticados de janeiro de 2020 a outubro de 2020 e os de janeiro a outubro de 2021. O produtor, que antes precisava de 8,8 arrobas para a compra de um bezerro, agora necessita de 10,20.

Outro fator que influenciou diretamente nas margens do produtor foi o custo com energia elétrica. As bandeiras tarifárias estavam suspensas até novembro de 2020 devido à pandemia. Ao serem retomadas, foi aplicada a bandeira vermelha, patamar 2, a R$ 6,24 a cada kWh. Em outubro, com vigência para novembro, foi instituída a bandeira de escassez hídrica, alcançando um custo aditivo de R$ 14,20 por kWh, o que causou um impacto de 127% apenas no custo da bandeira tarifária.

Com isso, conforme os dados levantados nos painéis do Projeto Campo Futuro em 2021, a energia elétrica representou, em média, 4,5% do COE da produção de tilápia, 26% do COE da produção de camarão, 18,4% na avicultura de corte, 14,4% na suinocultura (unidade produtora de leitões desmamados) e 5,5% na suinocultura de terminação.

As cadeias de pecuária de corte, avicultura de postura e suinocultura, essencialmente de comercialização externa, conseguiram certo equilíbrio com as exportações. A reabertura e o início da recuperação econômica mundial, somadas à desvalorização do real, aumentou a competitividade das proteínas brasileiras, que tiveram aumento no valor exportado de 24% na carne de frango, 21% para a carne suína e 14,5% de carne bovina, entre janeiro a outubro, quando comparado ao valor do mesmo período de 2020.

Para a carne de frango, a presença da gripe aviária de alta patogenicidade (Highly Pathogenic Avian Influenza – HPAI) no Hemisfério Norte, comum à região nessa época do ano, impulsionou ainda mais as exportações brasileiras. Os focos da doença resultaram em abates de criações e, em alguns casos, em queda expressiva nas exportações, devido aos embargos à importação dos países atingidos.

No caso da pecuária de corte, além do bom ritmo dos embarques brasileiros de carne bovina, a menor oferta de animais para abate colaborou com o cenário de preços firmes para a arroba até agosto de 2021, quando a oferta de gado confinado começou a aumentar (primeiro giro).

No começo de setembro, com a confirmação dos casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), observou-se uma pressão de baixa sobre os preços, inicialmente ocasionada pela suspensão das exportações para a China.

De 31 de agosto, quando começaram as especulações sobre os casos de EEB no Brasil, até 28 de outubro, quando se atingiu o menor preço nesse período, a cotação da arroba do boi caiu 18,92%, saindo de R$ 313,40 para R$ 254,10. A queda na demanda dos frigoríficos exportadores, somada à oferta maior de animais oriundos de confinamento para abate, fez o preço da arroba do boi gordo cair. Isto causou grande impacto nos resultados do segundo giro do confinamento, que, em um movimento atípico, fez com que alguns pecuaristas retornassem os animais às pastagens para diminuir os prejuízos, uma vez que os custos de confinamento não recuaram.

No mesmo período, o setor lácteo, a aquicultura e a avicultura de postura, cadeias altamente dependentes do mercado interno, sofreram grande impacto com a alta do custo com a alimentação e com a energia elétrica.

Nesses casos, a partir do segundo trimestre de 2021, observou-se um aumento da demanda interna. Esse cenário refletiu na valorização do preço pago ao produtor na ordem de 30% nos ovos, 30% no leite e 32% na tilápia, entre janeiro e outubro, quando comparado ao preço do mesmo período de 2020.

Na pecuária leiteira, apesar das cotações nominais interessantes para o leite ante a série histórica, os produtores amargaram com margens estreitas ao longo do ano. As chuvas irregulares e as geadas em importantes regiões produtoras comprometeram a produção e a qualidade das pastagens. Esse cenário aumentou a dependência por suplementação com ração e minerais proteinados, em um cenário de preços já aquecidos, retroalimentando a tendência de alta.

Em termos de preços, o leite pago ao produtor apresentou alta de 14,55% de janeiro a outubro, conforme as cotações do Cepea, na média do país, em função de uma produção mais ajustada.

Por outro lado, o acompanhamento sistemático de custos de produção via projeto Campo Futuro (CNA/CEPEA) identificou que os desembolsos do produtor com o leite foram onerados em 17,25% no mesmo período, cenário que culminou em queda de 1,4% no volume de leite captado entre janeiro e setembro, quando comparado a igual período do ano anterior.

Como essas cadeias produtivas são majoritariamente voltadas ao mercado interno, a situação de renda fragilizada da população comprometeu a rentabilidade do setor, haja vista a falta de espaço para repasses de preços de forma expressiva ao consumidor. As compras pelo setor varejista foram marcadas por pequenos volumes, realizadas em maior frequência, exercendo pressão baixista nas cotações dos derivados lácteos. Esse contexto, associado a cotações internacionais aquecidas ante a série histórica, não deu espaço para grandes importações de lácteos, que tiveram seu volume reduzido entre janeiro e outubro, com queda de 10,7% ante o mesmo período de 2020.

Já na avicultura de postura, a alta demanda pelo ovo fez com que o brasileiro batesse recorde de consumo, com estimativa final de 255 unidades por habitante ao ano em 2021, superando a média global de 230 unidades anuais. Apesar disso, a alta nos insumos no primeiro semestre de 2021 fez com que produtores descartassem matrizes para a redução dos custos com manutenção das granjas.

No mercado de suínos, com o aumento das demandas interna e externa, os produtores investiram na produção, abatendo mais animais e com maior peso. No entanto, no segundo semestre, a desvalorização da carne suína no mercado internacional, puxada pelo aumento da oferta interna da China, que vem liquidando parte de seus plantéis com receio de nova onda da peste suína africana, refletiu nos preços do suíno no Brasil, que caíram 3% de janeiro a outubro de 2021.

Na cadeia da tilápia, a disponibilidade interna do produto foi 5% superior à de janeiro a outubro, quando comparado ao mesmo período do ano passado. Esses dados apontam que, mesmo que bares e restaurantes tenham reduzido seu funcionamento, o excedente de disponibilidade interna foi absorvido pelo consumo doméstico de brasileiros que têm mudado seus hábitos alimentares após os períodos de lockdown da pandemia.

Os apicultores brasileiros tiveram um ano bastante positivo. O preço médio do mel comercializado no país aumentou 66,72% em relação a 2020, impulsionado pela alta de 14% no volume e pela de 83% no valor do mel exportado. A alta nas exportações se deve à abertura de novos mercados ao Brasil frente à severa diminuição na produção de mel na China em 2020, principal exportador mundial do produto. A crise chinesa foi causada pela perda de milhares de abelhas não alimentadas devido às medidas restritivas impostas pelo governo chinês para a contenção da pandemia do covid-19, aliado a problemas de logística no país.