Produção Agrícola

Aumento do custo de insumos e problemas climáticos marcaram o mercado de produtos agrícolas em 2021

O volume de produção de grãos na safra 2020/2021 atingiu 252,7 milhões de toneladas, recuo de 1,7% em relação ao registrado na safra 2019/2020. A temporada, que começou com estimativas recordes, foi afetada pelo atraso das chuvas, culminando no atraso do plantio da segunda safra de milho, que se desenvolveu fora das condições adequadas de precipitação e temperatura.

A soja, mesmo com dificuldades, foi uma das culturas de destaque. O aumento da produção de 13,2% foi reflexo da área recorde semeada na temporada.

No caso do algodão, apesar da qualidade positiva da fibra, os resultados foram mais baixos que os do ciclo anterior devido à menor área plantada, consequência da existência de estoques em função da pandemia.

Para a cana-de-açúcar, as condições climáticas, como a seca e o déficit hídrico, junto à ocorrência de geadas em julho e, mais tarde, de incêndios, desfavoreceram a produção, que recuou 13,2% em comparação à do ciclo anterior. Houve também retração de 17,8% na fabricação de açúcar e 16,6% na de etanol. Mesmo com a predominância da destinação de matéria-prima para o etanol (55%), a perda de competitividade do biocombustível em relação à gasolina e a redução do consumo relacionado a transportes, diante do cenário de pandemia, contribuíram para sua queda.

No caso do café, o efeito foi cumulativo e se arrastava desde 2020, sendo intensificado pelo déficit hídrico associado à bienalidade negativa de produção do café arábica.

O déficit hídrico também afetou o cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo Mineiro durante a fase de floração da safra de 2021, prejudicou o pegamento de frutos e ocasionou a redução na produção. Somado aos efeitos das geadas, a produção de 2021, mesmo sendo de bienalidade positiva, será inferior à de 2020 e 30,75% inferior à última safra de alta, que foi a de 2019. Econ

Para as frutas e hortaliças comercializadas in natura, além do déficit hídrico e dos danos causados pelas geadas, a demanda reduzida teve reflexo nos volumes comercializados no atacado. A análise dos dados das Ceasas, de janeiro a outubro, indica redução no fluxo de oferta, mesmo frente à parcial de 2020 (-1,6%). Frente ao mesmo período de 2019 – anterior à pandemia –, houve redução de 16,6% no volume ofertado nas centrais de abastecimento.

Em relação à balança comercial de grãos, a alta na valorização dos preços das commodities, associada à desvalorização do real frente ao dólar e ao bom desempenho de algumas culturas, refletiu nas exportações. O destaque fica para a soja, que totalizou 80,8 milhões de toneladas exportadas.

No caso das frutas, as retrações na demanda nacional, o câmbio favorável e a demanda global aquecida ampliaram a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional.

Quanto ao açúcar, as exportações brasileiras, de janeiro a outubro, recuaram em volume em relação ao mesmo período de 2020. A valorização do produto, porém, permitiu uma receita superior a US$ 7,5 bilhões, 7% acima do observado no ano anterior.

Quanto ao café, além da quebra de safra, os entraves logísticos têm impedido melhores desempenhos das exportações.

No caso das frutas, as retrações na demanda, o câmbio favorável e a demanda global aquecida ampliaram a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional.

Variação na área, produção e exportação dos principais produtos agrícolas na safra de 2021

Em relação aos preços dos produtos agrícolas, eles já vinham em movimento positivo devido às alterações de mercado impostas pela pandemia e mantiveram esse comportamento em 2021. A alta das cotações internacionais, a desvalorização do real e a forte recuperação da demanda mundial foram os principais fatores que deram impulso às cotações.

Os preços médios de janeiro a outubro de 2021 em comparação ao mesmo período de 2020 apresentaram aumentos nominais para o milho (68%), o café arábica (63,4%), a soja (53%), a laranja-indústria (22,7%), o arroz (17,5%) e o feijão (16,5%).

Para o milho, o café, a laranja e o feijão, a produção menor do que a esperada, em virtude dos problemas climáticos no Brasil, juntou-se aos fatores de encarecimento dos preços ao longo do ano. Para o trigo, apesar da boa safra brasileira, a redução da oferta em importantes países produtores valorizou ainda mais as cotações.

No caso do milho, principalmente segunda safra, em que houve redução na produção no Paraná (-43,1%), no Goiás (-34,7%), no Mato Grosso do Sul (-27,01%) e no Mato Grosso (-5,2%), o baixo desempenho de produtividade foi fator determinante de redução da receita.

Soma-se a isso o aumento acumulado de custos com os principais insumos agrícolas nos últimos doze meses, como KCl (+176%), glifosato (+186%), ureia (+137%) e MAP (+101%).

Os aumentos de custos foram em função principalmente dos entraves logísticos, da crise energética e da retomada da economia mundial, bem como das expectativas de aumento da demanda por defensivos e fertilizantes, que aumentaram sobremaneira os preços praticados, que seguem em ascensão.

Para a soja, mesmo com o aumento de 53% do preço médio de janeiro a outubro de 2021 em relação ao mesmo período de 2020 e com bom desempenho da safra, a venda antecipada e o não aproveitamento dos preços na totalidade somaram-se ao custo no impedimento da expansão das margens de lucro.

Cerca de 50% da produção de soja, por exemplo, já tinha sido comercializado em agosto de 2020. Para o milho, as vendas antecipadas atingiam 46% da produção no mesmo período.

Variação de cotações de fertilizantes e herbicidas levantados pelo projeto Campo Futuro em 21 praças de milho e soja em 10 estados produtores

Em relação ao café em regiões montanhosas, além da comercialização antecipada e da quebra de safra, os produtores também tiveram que conviver com os aumentos de custos. Em Santa Rita do Sapucaí (MG), por exemplo, o custo aumentou em mais de 30% em relação a 2020, impulsionado principalmente pelo aumento de custos com fertilizantes (128%). No entanto, em todas as regiões de cafeicultura de montanha, verificou-se o aumento de custos com mão de obra, que foi na ordem de 18% e compõe o principal item de custo nessas regiões.

No caso dos hortifrútis frescos, a redução da demanda foi refletida nos preços. Segundo os dados das Ceasas, ao serem analisados os principais hortifrútis comercializados entre janeiro e outubro de 2021 – frente ao mesmo período do ano anterior –, verificaram-se reduções nos preços nominais do alho (-14,5%), da batata-inglesa (-6,4%), da cebola (-17,9%), da cenoura (-4,0%) e da maçã (-5,5%). O problema é mais grave em função da não cotação em bolsa e da alta dependência do mercado interno. Com isso, o aumento de custo, não acompanhado do aumento de preço, para a maioria das culturas, tornou a gestão econômica ainda mais desafiadora.